O mundo chora pelas vítimas da pandemia do COVID-19 e o Brasil supera as 500 mil vidas ceifadas. Outro inimigo nada oculto nos assola ultimamente, a “infodemia”, que poderia ser explicada como o excesso de informações a que somos bombardeados, sejam as oriundas de fontes idôneas e outras tantas manipuladas maliciosamente (desinformação, “fake news”), ou simplesmente erradas factualmente (pela ignorância ou desconhecimento da técnica). O cidadão sem uma filtragem adequada – ou por vezes, sendo vítima dos algoritmos, acaba por ser inundado com um amontoado de notícias, teorias conspiratórias, entrevistas de autoridades, personalidades e palpiteiros, todos no mesmo plano. Umberto Eco dissera que a internet havia misturado na mesma “ágora” incultos ora restritos à insignificância (em suas aldeias) à portadores da verdade.
A infodemia turba a normalidade e mistura no mesmo balaio: opinião e fatos, ciência e achismo, consensos dos estudiosos e manifestações sem compromisso com a verdade.
O movimento que descredibiliza os meios de comunicação em massa (que guardam compromisso com o jornalismo profissional) faz com que as pessoas fiquem à mercê de informações nem sempre confiáveis ou sem comprometidas com o debate sério e despido de vieses ideológicos. A desinformação traz prejuízos (psicológicos, sociais, políticos) chegando até mesmo a matar. O movimento antivacina é um exemplo claríssimo!
O professor Michele Zanzucchi, jornalista e professor de comunicação na Sophia University (IT), destaca a emergência para superarmos o negacionismo (aqui considerado o agir contrário ao estado da ciência), para estarmos prontos para os desafios que se avizinham, a ponto de encontrarmos a nova simplicidade da vida comum. Reflete Zanzucchi não ser plausível que a humanidade não tenha aprendido com os seus erros e continue a agir do mesmo modo (conforme disserta Elias Canetti, em “Massa e Poder”).
Na sociedade em redes, como nomina Manuel Castells, temos que encontrar nossa morada saudável. Para Luciano Floridi, o mundo digital “re-engenhariza a realidade”, não chegando a desenhar uma nova estrutura sistêmica mas enseja uma transformação radical da natureza e o modo com o qual concebemos o nosso ser na sociedade. Ou seja, sintetiza Zanzucchi, “reformula o nosso modo de vida”.
Como não podemos evitar a vida massificada das informações e das redes sociais, teríamos que conferir um “novo senso à própria existência” (Zanzucchi). Afinal, o ambiente digital é parte dos problemas como também da solução, como enuncia Floridi.
A vacina da infodemia consiste na recriação de uma cultura baseada em várias premissas, dentre as quais: estabelecer filtros para receber todo tipo de notícias (mesmo as advindas dos meios de comunicação tradicional), permitindo-se o “direito à desconexão”; afastar-se do efeito-bolha, implicando em não se informar apenas com o pessoas que guardam conexão ideológica, de forma a furar a redoma, para gerar um juízo crítico e plural de ideias; buscar fontes oficiais com credibilidade; estar aberto a ouvir opinião de especialistas e estudiosos no tema, notadamente com respaldo científico.
Por fim, para lidar com um aspecto negativo da infodemia, notadamente com as fake News fica o alerta para agir com bom senso (desconfiar), parcimônia (não se exaltar mesmo quando corrobore um pensamento ideológico pessoal), responsabilidade e respeito ao próximo (como não endossar ou repassá-las a terceiros), denunciando os conteúdos ofensivos às autoridades (quando for o caso) e provedores de aplicação (quando violarem os termos e políticas).